Artigo de equipe inglesa que divulga a descoberta saiu na revista científica Nature. Professor da UnB é um dos colaboradores
Artigo publicado no início de janeiro na versão online da revista
Nature - publicação de maior prestígio científico do mundo - divulgou a
descoberta que pode revolucionar o tratamento de câncer e outras doenças
metabólicas. A equipe chefiada pelo pesquisador John Schwabe, da
Universidade de Leicester, Inglaterra, descobriu que uma molécula
presente no núcleo de células humanas é responsável por modular a
atividade da enzima HDAC3, importante para a regulação dos genes. O
estudo teve a participação do pesquisador Guilherme Santos, do
departamento de Farmácia da UnB.
Guilherme passou a integrar o estudo conduzido pelo pesquisador
inglês, em 2005, como parte do seu treinamento de pós-doutorado. Na
época, o Schwabe desenvolvia suas pesquisas no Laboratório de Biologia
Molecular do Medical Research Concil, em Cambridge. Desse laboratório
saíram 13 ganhadores de prêmio Nobel, incluindo Watson e Crick,
descobridores da dupla hélice do DNA.
“Meu objetivo era dar continuidade a meu treinamento cientifico
focado em estudos estruturais de receptores nucleares”, recorda
Guilherme. “Quando iniciamos este projeto, não tínhamos ideia da
existência desta molécula no complexo de proteínas que estávamos
estudando – que incluia a enzima HDAC3”. Guilherme teve participação
essencial nos primeiros passos da pesquisa. “Consegui colocar o projeto
em andamento e mostrar que era possível fazer”. (Veja glossário com os
principais termos no final da matéria)
RAIO X - A cristalografia é uma das principais
técnicas utilizadas para os estudos estruturais e aplicadas no estudo.
“Nós cristalizamos a proteína de interesse para facilitar o estudo de
sua estrutura”, explica Guilherme. Em seguida, a molécula passa por um
feixe de raios X em um síncroton, um acelerador de partículas que serve
para determinar a posição exata dos átomos dentro das moléculas. O uso
da técnica na enzima HDAC3 revelou que a molécula IP4 funciona como uma
“supercola intermolecular” entre a HDAC3 e a proteína SMRT - que regula a
atividade da HDAC3 - inibindo ou ativando a enzima.
A HDAC3 é responsável pela produção de novas proteínas por meio da
regulação da expressão gênica – que converte as informações do código
genético em proteínas essenciais para a célula. “Ela é importante porque
atua no fechamento da cromatina”, diz Guilherme. A cromatina é a
estrutura molecular onde o DNA fica compactado, para que a produção de
novas proteínas aconteça ela precisa estar aberta. Atuar na IP4 é uma
forma de controlar a atividade da HDAC3.
Segundo Guilherme, esta descoberta é um grande avanço na compreensão
do metabolismo celular e abre novas perspectivas para o tratamento do
câncer. “Atualmente as drogas existentes no mercado não são muito
específicas e acabam influenciando na atividade de outras enzimas,
gerando efeitos colaterais”, explica.
Isso acontece porque as drogas utilizadas na clinica atuam no sitio
catalítico da enzima – espécie de cavidade na superfície da enzima onde
ocorrem as reações enzimáticas. Essa cavidade é muito parecida com as
encontradas em outras enzimas HDACs. “Agora temos um alvo mais
específico para a produção de novos medicamentos”. Uma das hipóteses dos
pesquisadores é que essas drogas poderão fazer com que uma célula
cancerígena se comporte de uma forma similar a uma célula normal. "Nesse
caso poderíamos fazer com que elas se multiplicassem menos",
exemplifica.
EXCELÊNCIA - De volta a UnB desde 2011, a
experiência que o pesquisador trouxe das pesquisas no exterior vai
contribuir significativamente nos estudos desenvolvidos por aqui. “Para
nós será um salto, ninguém no Brasil domina os estudos estruturais da
cromatina”, revela o professor Francisco de Assis Rocha Neves,
coordenador do Laboratório de Farmacologia Molecular (FarMol). “Os
conhecimentos dele vão completar um dos campos de excelência do
laboratório, que é a regulação da transcrição por meio de receptores
nucleares – processo relacionado com a expressão gênica”.
Francisco foi orientador de Guilherme tanto no mestrado quanto no
doutorado sanduíche, realizado parcialmente na Universidade de
Cergy-Pontoise, da França. Em boa parte desse período Guilherme
desenvolveu estudos no FarMol. “Ele é um exemplo de alguém que soube
aproveitar as oportunidades para construir uma carreira científica
sólida”, elogia.